terça-feira, 28 de agosto de 2012

Primeiro Dia de Trabalho.

Segunda-feira enfim chega. Levanto da cama ás quatro da manhã, não consegui pregar o olho durante a noite, tamanha minha ansiedade, já deixei tudo separado. Arrumei o Paulinho, me arrumei. Deixei ele na casa da Alice, ela me deseja sorte e eu embarco no 637C rumo ao bairro de Pinheiros, tenho até as 7H30 pra chegar. O ônibus está lotado e o trânsito na Estrada do M'Boi Mirim é infernal. São 5H12. Dezoito anos de idade e esse é o meu primeiro emprego.
Desembarco ás 7H14 no Largo da Batata, corro em direção a loja que fica no começo da Rua Teodoro Sampaio. Chegando próximo a porta desacelero, arrumo o cabelo e confiro a maquiagem num pequeno espelho que carregava junto comigo. Tudo estava certo. Respiro fundo e pela porta. 
A primeira pessoa que encontro é Carlos, ao seu lado uma mulher morena, muito bonita, cabelos negros compridos, sua roupa era impecável.
—Que bom vê-la aqui, Maria! Pontual. Essa aqui é Ana, — disse me apresentando a mulher ao seu lado — minha esposa.
Ana me cumprimentou com um sorriso radiante e uma simpatia infinita, apertei sua mão meio sem graça, lembrando da entrevista, mas Carlos agia naturalmente, como se nada tivesse acontecido.
Ele pediu que eu aguardasse e foi levá-la até a porta e voltou, com um olhar que me dava arrepios.
—Bonita sua esposa, ela trabalha aqui também? — Perguntei, torcendo para que a resposta fosse sim.
—Não. A gente só vem juntos até aqui, ela trabalha em um escritório de contabilidade aqui perto.Vamos começar? — disse Carlos alisando minha mão — Venha aqui que vou ter dar um uniforme.
Meus passos eram receosos, aquele homem me assustava, sem o menor pudor me desejava a todo instante. Senti que meu recomeço na vida não seria nada fácil.
Entramos na mesma sala onde a entrevista foi realizada, em cima da mesa tinha uma camiseta, uniforme da loja, ele a pegou, me entregou e pediu que a colocasse.
—Onde eu troco? —Perguntei.
—Aqui mesmo. — Ele disse.
Me arrepiei da cabeça aos pés, mas daquilo poderia depender o meu emprego, o sustento do meu filho. Ele estava atravessado na frente da porta, ninguém entraria ali naquele momento e pensando em meu filho, fiz exatamente o que ele pediu.
Coloquei a bolsa em cima da mesa, tirei a regata que eu estava vestindo e mais que depressa vesti a camiseta preta que ele me entregou. Não conseguia olhar em seu rosto, mas sentia sua inteira satisfação, sabia que não perderia o emprego por conta disso.
Na parte da manhã ele me mostrou o estoque, me ensinou planos de pagamento, como atender os clientes. O tempo todo seus olhos me mediam de cima abaixo.
Na hora do almoço ele me convidou para almoçar com ele, pensei em rejeitar, mas lembrei que não eu não dinheiro nenhum para tomar sequer um café. Fomos até um restaurante self service há umas duas quadras dali. Depois que terminamos de almoçar, ele pôs a mão em meu ombro.
—Sabia que você é muito bonita?
—Obrigada.
—Você tem namorado?
—Não.
—Como é que uma mulher tão linda como você está assim sozinha?
Dei um sorriso sem graça e ele começou a acariciar minhas costas e suas mãos foram descendo até minhas pernas, eu não sabia como reagir. Ele olhou o relógio. Já estava na hora de voltar. Voltamos para a loja, trabalhei normalmente, e onde quer que eu estivesse seus olhos estavam em mim, até o fim do expediente.
Fui pra minha casa. Peguei meu filho com Alice.
—Como foi seu primeiro dia? — Perguntou ela.
—Foi bom. Estou exausta!
Só que bem maior que o cansaço do corpo, era o da mente. Fui dormir pedindo aos céus proteção e forças, pois amanhã seria mais um dia...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Proposta de Emprego

Estar na maior foça não era meu maior problema, pior era o buraco onde estava me enfiando.
Entreguei minha alma ao diabo quando minha mãe faleceu de câncer, eu tinha 15 anos quando engravidei de um homem que jurou me amar e depois do primeiro porre com os amigos desapareceu, morei de favor na casa de parentes, vivendo toda forma de humilhação, meu filho e eu.
Minha amiga, Alice, que sempre me ajudou, me aconselhava sempre a ir em entrevistas de emprego ver se conseguia algo, deixava meu filho com ela e ia. Á toa, sempre, já que sem os estudos completo, essa era uma tarefa quase impossível.
—Prazer, meu nome é Carlos.
—Sou Maria, prazer.
Este era o gerente de uma loja de calçados no bairro de Pinheiros que estava precisando de vendedor. Durante toda a entrevista mantinha seus olhos fixos no meu decote, sem se preocupar sequer em disfarçar. Me senti completamente desconfortável durante o tempo que permaneci ali, mas apesar do constrangimento, sentia que eu tinha isso a meu favor.
—Bom, Maria, eu faço questão de te ensinar tudo o que você precisa sabe para trabalhar aqui conosco, um talento como o seu não deve ser desperdiçado. Você começa aqui na segunda-feira.
Enquanto eu ia embora sentia que seus olhos só perderam de vista meu corpo quando eu finalmente dobrei a esquina rumo à Faria Lima, para embarcar num ônibus rumo ao Jardim Ângela onde morava, me sentia aliviada, finalmente tinha um emprego, poderia alugar uma casa e morar com meu filho, ter a vida que as circunstâncias em que eu me encontrava não me permitiam ter.
Quando contei a novidade para Alice, ela não se conteve de alegria, compramos pizza e cerveja para comemorar. Éramos três crianças, Paulinho já tinha mais de dois anos e se divertia junto com a gente cantando, pulando... Tudo era felicidade.
Horas atrás eu era um fardo que familiares e amigos carregavam por caridade, agora eu podia me autossustentar. É claro que até eu me estabilizar na vida, ia levar um tempo, mas o primeiro passo já estava dado.
A noite quando pus minha cabeça no travesseiro me lembrei do gerente da loja e seu comportamento comigo. O que eu teria de enfrentar ainda era desconhecido já que esse era meu primeiro emprego, mas ainda havia um final de semana para aproveitar.